Todos te odeiam, Corinthians Paulista

Tratar o futebol como algo que vai além de qualquer outra coisa é especialidade do brasileiro. A prática, seja do esporte ou simplesmente da torcida, costuma atingir parâmetros inalcançáveis por outros assuntos ditos mais sérios. E existe um time onde tudo o que acontece tem proporção maior: o Corinthians.

Nas últimas semanas acompanhamos um fenômeno marcante e inesquecível em nossa sociedade. O Corinthians, enfim, foi campeão da Copa Santander Libertadores. Junto com o digno nervosismo dos corintianos, acompanhamos uma enorme movimentação dos rivais. Algo jamais visto no Brasil. Ficou comprovado: o Corinthians é o time mais odiado do mundo.

Os corintianos sobre isso: é inveja.

Os outros torcedores: é apenas um reflexo do que vocês criaram.

E esse segundo argumento, assim com o primeiro, faz sentido. O Corinthians dá motivos para ser odiado. É algo muito maior que inveja de não estar em final de Copa Santander Libertadores ou ser Campeão Brasileiro.

Virou rotina odiar o Corinthians.

Corinthians campeão da América: não falta mais nada

Influência política em decisões

O estádio do Corinthians, mesmo ainda não construído, foi confirmado como palco principal da Copa do Mundo de 2014. A decisão foi feita sem qualquer pesquisa de opinião dos torcedores e jogadores, o que causou enorme irritação do povo. O motivo dessa escolha unilateral deve-se a fortíssima influência do Corinthians na CBF, via o ex-presidente Andrés Sanchez, e no Governo Federal, via ex-presidente Lula.

Além dessa imparcialidade, o projeto é todo construído com dinheiro de isenção fiscal dos paulistanos. A obra navega sobre muitas dúvidas quanto à viabilidade financeira, os impactos na região e o cronograma de obras. No início de julho de 2011, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou a concessão de incentivos fiscais no valor de R$ 420 milhões para a construção do estádio. Dinheiro esse contruibuido por são-paulinos, palmeirenses e santistas.

Um claro emprego de dinheiro público na obra. O que ninguém queria (ainda mais para o Corinthians).

O Corinthians é forte também nos bastidores

Dirigentes e jogadores

O Corinthians tem em sua mais que centenária história a curiosa tradição de reunir jogadores e dirigentes marrentos. São aqueles que utilizam a personalidade de modo brilhante para promover um jogo ou título. Contudo, muitas vezes ultrapassam a tênue linha do bom senso com a babaquice. Essa capacidade de ter nomes como Andrés Sanches, Marcelinho Carioca, Vampeta e Neto contribuem para a generalização de um nome sobre o grupo.

Um exemplo clássico e prático dessa informação é uma capa de Placar do final do século. Uma pesquisa comprovou que Marcelinho Carioca era o jogador mais odiado do Brasil. E Marcelinho, você sabe, é a cara do Corinthians. Fica impossivel desmistificar a imagem dele com a do clube.

Chato pra caralho, diga-se de passagem.

Capa de Placar de abril de 2000

Atenção maior da mídia

Pesquisas comprovam que o Corinthians tem a segunda maior torcida do Brasil (com crescimento maior que a do Flamengo desde os anos 90). São pouco mais de quatro milhões de brasileiros de diferença para o primeiro colocado.

Sendo um clube melhore estruturado e que chega com mais força em campeonatos, o Corinthians, evidentemente, tem o apelo total sobre a mídia. Não fosse Neymar, o Globo Esporte de São Paulo poderia ser gravado no Pacaembu. Só se fala em Corinthians porque todos querem saber o que acontece com o Corinthians. Especialmente sua torcida, maior parte da audiência.

É inevitável que exista ciumes por parte dos adversários. O Corinthians perder é a capa do jornal perder junto.

E todos nós adorvamos ver um jornalista errar.

Tadeu Shimidt entra ao vivo no Fantástico direto do Pacembu

Investimento pesado da TV Globo

A TV Globo, detentora dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, paga anualmente as chamadas cotas aos clubes participantes. A divisão é feita supostamente de acordo com o número de partidas transmitidas. De acordo com a BDO, uma das maiores empresas de auditoria do Brasil, o Corinthians foi o clube que mais foi beneficiado nos últimos anos.

Em 2010 o Santos de Neymar recebia R$ 32,2 milhões, contra R$ 55 milhões do Corinthians. Em 2011, depois do acordo sigiloso com os clubes, o Santos comemorou o aumento de sua cota para R$ 59,5 milhões. Porém, o alvinegro da capital passou a receber R$ 112,5 milhões, ou R$ 53 milhões a mais do que o time praiano – o que gera uma diferença de 89%.

Segundo a BDO, os cinco clubes que mais receberam dinheiro da Rede Globo em 2011 foram: 1 – Corinthians, R$ 112,5 milhões; 2 – Flamengo, R$ 94,4 milhóes; 3 – São Paulo, R$ 67,1 milhões; 4 – Vasco, R$ 65,6 milhões e 5 – Santos, R$ 59,5 milhões.

É claro que isso chega aos ouvidos do torcedor.

Além de gerar indignação, causa o pânico de uma possível espanholização do Campeonato Brasileiro e a concorrência desleal.

Ex-presidente do Corinthians e atual presidente da CBF

Hegemonia nos últimos dois anos

Há um conjunto de fatores que determina esse ódio sobre os Corinthians. Mas já que estamos tratando de algo tão atual, não podemos negar o momento desse clube. Desde a derrota para o Tolima na pré-Libertadores de 2011, ninguém pode contestar o time. Campeão Brasileiro em 2011 e agora Campeão da Copa Santander Libertadores, o Corinthians é o que há de melhor no futebol brasileiro.

Mérito de Tite. Com um time talhado para ganhar a Copa, sem estrelas e uma defesa impecável, o treinador gaúcho jogou uma Libertadores a moda antiga. No resultado, no 1x0 e no gol chorado. A cada rodada aumentava a sensação que o Corinthians não seria capaz de eliminar o próximo. Mas foi. E foi campeão. Gerando ainda mais ódio.

Odiado, mas melhor time do Brasil

O Corinthians é o time das ligações com pessoas relacionados a corrupção, títulos conquistados de modo suspeito e uma série caprichos e benefícios da mídia. Todo mundo, todo brasileiro, todo torcedor tem essa sensação: o Corinthians é um time do mal.

Mas um time campeão.

Paciência.


publicado em 08 de Julho de 2012, 13:24
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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