Um Contrato com Deus e o Começo das graphic novels

O pessoal do Pipoca e Nanquim fala sobre Will Eisner e a popularização das graphic novels

Will Eisner é um dos mais renomados quadrinistas do mundo. Durante seus mais de setenta anos de carreira, atuou em praticamente todas as áreas da indústria da chamada Nona Arte. 

Foi desenhista, roteirista, editor, empresário, publicitário, professor. Trabalhou em gráficas, em revistas de pequenas e de grandes editoras, fez histórias para jornais de grande circulação, se autopublicou, inventou personagens célebres e também “brincou” com alguns criados por colegas do meio. Fez livros infantis e também teóricos. Para resumir, é o artista de quadrinhos mais completo de que já se teve notícia.

Uma de suas principais obras é a paradigmática Um Contrato com Deus, a HQ que desencadeou o fenômeno da graphics novel no mundo todo. E esse é o tema do vídeo daqui debaixo em que o Bruno Zago e eu, do Pipoca e Nanquim, destrinchamos a obra e situamos sua importância histórica.

Um Contrato com Deus e outras histórias de cortiço (1978) reúne quatro histórias situadas na fictícia Avenida Dropsie, no Bronx, Nova York, nas quais o autor nos mostra os dramas e alegrias de pessoas comuns, que se mantinham ocupadas tentando ganhar a vida e criar seus filhos, enquanto sonhavam com um futuro melhor.

A obra foi o início de uma trilogia de livros, composta também por A Força da Vida (1988) e Avenida Dropsie: a Vizinhança (1995). As três são semibiográficas e tratam de períodos de vida da população que cresceu por ali. Sempre focado nas pessoas, o coração da matéria, Eisner desenvolveu personagens preocupados com os desafios do dia a dia e suas relações, nem sempre cordiais.

Cabe frisar que a origem do termo “graphic novel” já foi muito discutida e não há consenso de quem a criou, mas está claro que não foi Will Eisner, ele mesmo já comentou isso em diversas ocasiões. Porém, por ter empregado o termo tão acertadamente, foi ele que o popularizou e também o definiu de maneira definitiva: uma espécie de obra literária popular que tem os quadrinhos como meio. Sobre isso, o autor declarou:

“Ao contar essas histórias, tentei me ater à regra do realismo, que requer que a caricatura ou o exagero aceitem os limites da factualidade (…) Para atingir essa dimensão, tive que deixar de lado dois limitadores básicos que constantemente inibem a criação nesse meio — o espaço e o formato. Cada história foi, portanto, escrita sem preocupação com o espaço que iria ocupar, e seu formato surgiu da própria narrativa.

Aos quadrinhos normais associados à arte sequencial (HQ) foi dada a liberdade de tomar suas próprias dimensões. Por exemplo, em muitos casos uma página inteira é usada para um único quadro. O texto e os balões estão interligados à arte. Eu os considero como fios de um mesmo tecido e faço uso deles enquanto linguagem.

Caso eu tenha atingido meu propósito, não haverá interrupções no fluxo da narrativa, porque figura e texto serão tão interdependentes a ponto de serem inseparáveis.”
 

(Trecho do livro Will Eisner: um sonhador nos quadrinhos, de Michael Schumacher, Editora Globo, 2013).

Hoje, as graphic novels estão por todos os cantos e é um ótimo caminho de entrada para quem deseja conhecer histórias em quadrinhos. Felizmente, as opções de leituras são vastas e isso ainda rende muito pano pra manga…

 

Will Eisner - 1 Autor, 3 Obras

Vídeo com indicação de três quadrinhos fundamentais para a carreira de Eisner.

Vamos bater mais papo sobre Will Eisner e graphic novels? Espaço aberto aqui nos comentário.

Até o próximo vídeo!

 


publicado em 19 de Agosto de 2015, 00:00
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Daniel Lopes

É apresentador e editor do site Pipoca e Nanquim, autor dos três livros da série "Quadrinhos no Cinema", lançados pela editora Generale entre os anos 2011 e 2013. É editor dos títulos da DC Comics e do selo de quadrinhos adultos Vertigo publicados pela Panini.


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