O corpo dolorido, o sono insuportável e a voz ausente são sinais. Não há prova mais evidente de que se acabou de viver algo especial.
O PapodeHomem foi convidado pela Heineken para cobrir os quatro últimos dias do festival e, já de cara, não dava para notar outra coisa senão o tamanho gigantesco do evento. O Rock In Rio é um monstrão de 150 mil metros quadrados, 86 metros de comprimento por 25 de altura do Palco Mundo e só sua estrutura pesa 100 toneladas. Não dá pra fazer ideia do que isso significa até se pisar na Cidade do Rock.
A estrutura do evento fez bonito e já se erguia à distância. Dava pra ver o Palco Mundo, o Sunset, a roda gigante, a montanha russa. Pisando no lugar, você se depara com a Rock Street, ouve o som de algum pocket show que está rolando. Dá urgência.
Mas aí, imediatamente, o apego já vem e morde o pé: não vai dar pra ver tudo. Por isso, o que resta é aproveitar ao máximo cada minuto e tentar esquecer o que pode estar perdendo do outro lado do festival. Há que se ter uma estratégia.
O Palco Mundo
Rock bom é Rock tocado alto.
Nesse quesito, o Palco Mundo não deixou nada a desejar. Inclusive, muito provavelmente é o som mais ensurdecedoramente alto que já ouvi na vida, coisa que foi especialmente reforçada pelo show do Sepultura com o Tambours Du Bronx. Aquilo foi uma invasão orc, não um show. Cachorros em um raio de 10km devem ter se escondido debaixo do sofá de tão alto e brutal que estava o som.
Metallica fez muito bonito, com um show bem técnico, ao estilo da banda, mas com um repertório diferente, mais focado nos clássicos. Exatamente o que você quer ver numa apresentação deles. O próprio Lars falou que este show foi mais legal que o último, há dois anos.
As bandas brasileiras, de um modo geral, mandaram muito bem. Skank e Frejat fizeram todos cantarem. Eu estava aguardando o Ben Harper no Sunset e dava para ouvir as pessoas cantarem em coro, enquanto o silêncio no palco permitia. Uma cena muito bonita de se ver.
O Kiara Rocks fez um show bem surpreendente. Entraram tocando Ace Of Spades, depois seguraram a onda muito bem com as músicas próprias. Mais tarde, trouxeram o Marcão do Charlie Brown e o Paul Di'Anno para completar a banda. Executaram Highway to Hell (AC/DC), depois Blitzkrig Bop (Ramones) e Wrathchild (Iron Maiden). Não sei o que tinha no som nesse momento, mas uma das lentes dos meus óculos simplesmente pulou da armação com a vibração. Impressionante.
Nos outros dias, Nickelback e Bon Jovi fizeram ótimos shows. Bruce Springsteen foi incansável. A todo momento parecia que seria a última música e ele voltava com outra coisa. A impressão é de que ninguém ali estava se divertindo tanto quanto ele.
Nos momentos finais de Rock In Rio, Slayer e Iron Maiden mostraram como se faz um grande show. O Iron trouxe um setlist baseado na turnê Maiden England, o que resultou em um show bem diferente. Nada de músicas novas, apenas clássicos dos anos 80, o que foi até estranho, já que um show do Iron sem Hallowed Be Thy Name é algo bem fora da curva.
O Palco Sunset
Que ideia sensacional a de manter o Palco Sunset só com parcerias.
Os shows foram ótimos, especialmente o do Gogol Bordello com o Lenine, que fizeram uma bela mistura e energia lá em cima.
Eu tenho uma afeição especial pela parceria do Ben Harper com o Charlie Musselwhite e me diverti demais com o belo show e a versão animal de When The Levee Breaks. Não sei se o público dele achava o mesmo, já que o show era focado no Charlie Musselwhite e sua gaita, não nos clássicos do Ben Harper. O que mais se ouvia era "eu não conheço nada disso, cadê tal música?".
Gostei muito do segundo dia do metal, que estava tão lotado que a estrutura pareceu pequena. Faltou espaço e, se você saísse de onde estava, corria o risco de não conseguir voltar. Por isso, os fãs de Helloween, Kai Hansen, André Matos, Viper, Destruction, Krisium, Sepultura e Zé Ramalho não arredaram o pé.
E, se eu tenho algum arrependimento, foi de não ter conseguido assistir ao Zé Ramalho com o Sepultura mais de perto.
Rock Street
A impressão mais forte foi de que o festival podia perfeitamente ser dividido sem perder nada.
A Rock Street era uma das coisas mais divertidas e interessantes que estavam rolando. Sempre que você passava por ali tinha algo interessante acontecendo e foi lá que as maiores surpresas do festival apareceram. Incluindo até uma apresentação surpresa do Ciaran Gribbin, vocalista do INXS, sozinho no violão.
Vimos apresentações bem legais de uma banda chamada Sensessional, Lisa Lottie mandou performances lindas com bambolês, deixando todo mundo boquiaberto, teve covers de Beatles e Orquestra Voadora. Foda.
* * *
Ao final, as pernas já não aguentam mais ficar em pé. O corpo inteiro está cansado, a mente está esgotada, a voz deve ter ficado em algum show, lá pelo primeiro dia, mas a satisfação é bem grande por ter tido a oportunidade de ver tantas bandas clássicas reunidas.
Diferente de outros festivais, esta pode até ser a crítica fácil ao evento. Faltou um pouco daquele espírito de banda nova, querendo impressionar aos milhares de possíveis fãs. Mas, nem de longe isso parece ser um grande problema. Dava para ver o quanto as pessoas estavam querendo participar, sempre solícitas, sempre querendo tirar fotos, querendo interagir. Conhecemos muitas pessoas apenas andando, conversando.
Tivemos excelentes trocas.
Provavelmente, deve ser por isso essa sensação gostosa depois de tantos shows. É energia pra caralho. E isso faz um puta bem.
Nota do Editor: Todas as fotos deste post são do amigo Felipe Larozza.
publicado em 24 de Setembro de 2013, 10:00